segunda-feira, 11 de julho de 2011

“É ridículo usar algo da cultura negra para pregar o poder branco”, diz skinhead antirracista

"Ativista afirma que termo é de origem jamaicana e surgiu em guetos da Inglaterra"

Mônica Ribeiro e Ribeiro, do R7


O termo skinhead sempre foi associado a um tipo específico de neonazista, devido ao visual que alguns membros de gangues que pregam a supremacia branca adotam – que é a cabeça raspada. Entretanto, a origem da denominação tem influência caribenha. Mais precisamente, jamaicana, onde a população é predominantemente negra.
Quem enfatiza isso é o skinhead antifascista Kemper, que é integrante da organização Sharp (Skinheads Against Racial Prejudice, em tradução livre, Skinheads Contra o Preconceito Racial). Ele afirma que há skinheads de todos os tipos, incluindo negros e gays. Em entrevista ao R7, o ativista, que é paulistano, preferiu não revelar a sua identidade.

Segundo ele, o movimento teve origem na década de 1960 na Inglaterra, entre jovens de classes operárias, que tinham contato com imigrantes jamaicanos. O skinhead tradicional é apartidário e tem a ligação com as músicas da ilha caribenha, sobretudo com o ska e o reggae.

De acordo com Kemper, a raiz do movimento é, de longe, racista. Porém, a crise econômica que assolava a Europa e, consequentemente, a Inglaterra na década de 70, favoreceu o surgimento de organizações fascistas que adotaram a cabeça raspada – mesmo visual dos trabalhadores das indústrias.

- Na época de 60, era só uma cultura de som, de rua, de beber cerveja, escutar um reggae. Já na década de 70, começaram a surgir partidos nacionalistas. Naquele período, tinha uma pessoal mais jovem, de 14 anos, que se iludiu com esses partidos nacionalistas. Então, começaram a surgir o que alguns chamam de skinheads nazi.

Kemper afirma que na Europa, esse pessoal é chamado de boneheads, algo como cabeças ocas.

- No Brasil, o termo chegou deturpado, ainda mais com a criação, na década de 70, dos Carecas do ABC, que era só uma gangue antes de adotar padrões neonazistas. Queremos tirar a imagem que skinhead é nazi. Nós somos contra o racismo e a homofobia.
Como maneira de mudar a imagem frente à população, os skinheads dizem que participam de protestos e marchas contra a intolerância, como na Parada Gay. Na edição de 2011, 20 skinheads antirracistas teriam sido presos por serem confundidos com fascistas.
- Fizeram uma denúncia anônima e confundiram a gente, por causa do visual. Isso acontece por causa da confusão que se criou e da falta de informação.

Para Kemper, não há nada mais “ridículo” do que gangues neonazistas usarem o termo skinhead.

- Existe uma cultura negra, que é usada por um cara que prega o poder branco. Eu não consigo entender essa ideia de poder branco. Não faz sentido para mim.

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